domingo, 16 de setembro de 2012

O Sistema de Cotas nas Universidades Federais



O sistema de cotas nas universidades brasileiras tem provocado um grande debate, principalmente, por trazer, embutido, nas diversas discussões, a problemática do racismo e da discriminação, presentes na sociedade brasileira.

No que se refere, especificamente, a adoção de cotas para negros, que a meu ver, foi o embrião que deu origem à adoção das cotas nas universidades, agora estendida a outras minorias, temos constatado que as opiniões são muito divergentes e conflitantes e, muitas vezes, são expressas com base em radicalismo e fortes manifestações emocionais. O argumento mais utilizado por quem é contrário ao sistema, baseia-se em dois elementos: o primeiro sustenta que ao invés de adotarmos um sistema de cotas, deveríamos melhorar o ensino médio no Brasil, principalmente, o público, o que garantiria uma equiparação de saberes para os pretendentes a ingressar nas universidades, por meio do vestibular; e o segundo, seria que no Brasil, a diferença entre os ingressantes e aqueles que não conseguem ingressar nos cursos superiores, estaria pautada na grande discrepância econômica.

Por outro lado, quem defende a política de cotas contradiz a estes dois elementos, considerando que a melhoria no ensino médio vem sendo reivindicado há décadas e a cada ano, este ensino mais se deteriora, ao passo que medidas imediatas, deveriam ser adotadas para socializar o ensino superior no Brasil. Quanto ao segundo elemento, ou seja, a diferença econômica, mesmo entre os pobres, o número de negros está, segundo pesquisa do Ibope, 47% acima dos brancos, isto é, existem mais pessoas pobres negras do que brancas.

O Sistema de cotas baseia-se no princípio do Direito das Minorias. Este nasce a partir da sua vulnerabilidade, especificidade e peculiaridades. Neste caso, o sujeito é considerado tendo em vista sua raça, etnia, religião, idade, gênero ou situação econômica e social.

Por outro lado o Direito à Igualdade é proclamado por diversos instrumentos jurídicos, entre eles: Declaração Universal dos Direitos Humanos; Constituição Federal da República do Brasil de 1988 (Prescreve o caput do art. 5º da nossa Constituição Federal de 1988: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à igualdade, a segurança e a propriedade, (...)") e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (sistema especial que "objetiva erradicar a discriminação racial e suas causa, como também estimular estratégias de promoção da igualdade").

O Direito à Igualdade pode ser analisado sobre dois aspectos. 

No primeiro, tem-se a igualdade formal, abstrata e geral. Em segundo, tem-se a igualdade material, específica e concreta.

Ao lado dessa igualdade temos, como um dos Direitos Humanos, o Direito à Diferença. Ela contempla a diversidade, representa o direito do individuo ser respeitado na sua diferença e nos seus direitos. 

Neste cenário surgiram as Ações Afirmativas, com o objetivo de promover a igualdade para os grupos mais vulneráveis – as minorias.

Dentro deste conceito, surgiram as cotas nas universidades brasileiras, com o objetivo de sanar as injustiças praticadas contra as minorias ao longo de toda nossa história.

É louvável a iniciativa de criar ações afirmativas para atenuar os problemas das minorias, como a preparação dos candidatos carentes aos concursos vestibulares, incluindo aí os negros e indígenas. 

É possível e desejável criar ações afirmativas para remediar os problemas (pelo menos para os poucos que terminam o ensino médio), como cursos pré-vestibulares que elevem o nível dos candidatos mais pobres, incluindo os negros.

Simplesmente, adotar cotas, além da dificuldade de distinguir raças, num país com ampla miscigenação, é uma medida que, certamente, vai degradar o nível das universidades publicas e que não resolverá a discriminação econômica e racial, que há séculos assola nosso país. 

Estabelecer cotas pela legislação é temerário e ilegal, pois contraria a autonomia universitária, assegurada pela Constituição e pela LDB e que constitui uma garantia para a liberdade de ensino. Num país democrático, boas intenções não podem servir de pretexto para o desrespeito à lei.

Ao optar pelas cotas, o governo apenas camufla e perpetua a deficiência crônica no ensino de base, atacando o sintoma e não a causa.

O sistema de cotas foi utilizado nos EUA, numa época em que o racismo era mais evidente e bloqueava o acesso de pessoas negras aos ambientes frequentados pelos brancos. Atualmente, estão proibidas pela Suprema Corte, pois são consideradas como um agravante da discriminação racial, contrariando a igualdade republicana e agredindo a autonomia universitária.

Acredito que melhor que estabelecer sistema de cotas, poderia o governo preparar melhor os candidatos carentes, por meio de um planejado e corajoso programa de melhoria da qualidade do ensino fundamental e médio públicos, aliado a um amplo e acessível programa de financiamento estudantil, o que nivelaria a concorrência com os alunos oriundos das escolas privadas. 

sábado, 1 de setembro de 2012

Mensalão é apenas uma pequena amostra do Festival de Corrupção que Assola o País



O julgamento do Mensalão vem prendendo a atenção da mídia e da população informada nas últimas semanas.

Embora seja um dos casos mais emblemáticos da política brasileira nos últimos anos e tenha sido considerado pelo Procurador Geral da República Roberto Gurgel como “o mais atrevido e escandaloso caso de corrupção realizado no Brasil”, nós sabemos que se trata apenas de uma pequena amostra, oriunda do alto escalão do governo, do imenso Festival de Corrupção que Assola o País.

Nos três níveis do Poder Executivo, bem como no Legislativo e no Judiciário (haja vista as declarações da ilustre Corregedora Eliane Calmon), a corrupção, o mau uso do dinheiro público, o desperdício e a ineficiência são práticas comuns, das quais poucos gestores públicos escapam, infelizmente.

Reportagem de Otávio Cabral e Laura Diniz, publicadas na revista Veja, revelou que o custo da corrupção no Brasil alcança a espantosa cifra de R$ 82 bilhões por ano – ou 2,3% do PIB brasileiro.

Temos uma altíssima carga tributária e o governo não consegue prestar, de forma adequada, à população nenhuma de suas obrigações básicas: educação, saúde, transporte, saneamento básico e segurança, pois boa parte dos recursos arrecadados por meio dos impostos escorre pelo ralo da corrupção.

A corrupção deveria ser considerada um crime hediondo, pois pessoas morrem por falta de assistência médica, crianças perdem oportunidade de um futuro melhor por falta de educação e famílias inteiras perdem a vida ou sofrem sequelas em decorrência da péssima situação das estradas. O ministro do STF Luiz Fux, no seu voto, foi categórico ao afirmar: "A cada desvio do dinheiro público, mais uma criança passa fome"

Mesmo assim, raramente, vemos um político condenado pela justiça. A principal razão da impunidade sempre foi a falta de provas factuais. Dessa forma, grande número de políticos, inclusive, o ex-presidente Fernando Collor, foram inocentados pelo Supremo Tribunal Federal.

Ora, como bem disse o Procurador Geral da Republica "O autor intelectual, quase sempre, não fala ao telefone, não envia mensagens eletrônicas, não assina documentos, não movimenta dinheiro por suas contas, agindo por intermédio de laranjas e, na maioria dos casos, não se relaciona diretamente com os agentes que ocupam os níveis secundários da quadrilha".    

Sendo assim, a comprovação da corrupção é levantada por meio de provas indiciais e testemunhais. Aí reside a grande diferença entre o atual julgamento do STF dos anteriores. A grande maioria dos ministros considerou válidas as provas apresentadas para condenar o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, ligado ao PT, além do empresário Marcos Valério e de dois ex-sócios, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach.

No decorrer do julgamento deve prevalecer esta grande mudança na postura dos ministros quanto às provas apresentadas e, certamente, teremos mais condenações.

Vamos aguardar.